domingo, 16 de setembro de 2012

Resident Evil Retribuição – Crítica.

Quinto filme da franquia surpreende e consegue ser melhor que todos os anteriores.



Por Wilma Emilia.




Raros são os filmes que conseguem sobreviver à um verdadeiro massacre da crítica e ainda assim ser sucesso de bilheteria. A franquia de filmes Resident Evil é um desses raros exemplos. Se por um lado a franquia é odiada pela maioria dos fãs do game ao qual é baseada pela falta de fidelidade, por outro também conquistou a sua cota de fãs apaixonados e um público constante e crescente. Com orçamentos medianos, os longas conseguem triplicar os seus custos nas bilheterias ganhando uma sequência após outra, tornando-se a adaptação de game mais lucrativa de que se tem notícia. Na contramão do sucesso financeiro, os filmes são tradicionalmente um festival de altos e baixos com roteiros medíocres, direções incompetentes, personagens coadjuvantes inúteis, atuações rasas entre outras coisas. Além de pecar como adaptação, os filmes também vinham pecando como obra cinematográfica  e os seus dias no cinema pareciam contados.

Os filmes anteriores continham idéias interessantes, porém, era na hora de executar essas idéias que o resultado final decepcionava.  Apesar do resultado quase sempre insatisfatório, os desfechos dos filmes abriam as portas para uma história completamente diferente a cada sequência dando boas possibilidades de reparar os erros dos filmes anteriores, o que levava os mais otimistas a acreditarem que um dia a história de Alice e Cia entraria nos eixos – ou não. Todos queriam (e ainda querem) saber o desfecho da saga de Alice, porque o Diretor Paul W. S. Anderson aprendeu a atiçar a curiosidade do espectador encerrando cada filme com um gancho espetacular para a sequência (embora o filme em questão não fosse tão bom assim), deixando todos ansiosos para o próximo capítulo da série. Residente Evil Retribuição,mantém a tradição de todos os filmes anteriores, contando mais uma história que se passa em ritmo frenético, porém, desta vez, ganha pontos por abrir espaço para tratar a sua protagonista com dignidade.


O longa se inicia exatamente de onde Resident Evil: Recomeço terminou, com um exército da Umbrella prestes a atacar o navio Arcadia onde Alice e seus companheiros estavam. Durante o ataque Alice é ferida e aprisionada em um complexo submerso da Umbrella. Liderando as tropas da Umbrella está a Chefe de Segurança Jill Valentine, antiga aliada de Alice e agora controlada pela Umbrella através de um dispositivo em forma de escaravelho fixo em seu peito. Alice consegue fugir com a ajuda de Ada Wong, uma agente infiltrada na Umbrella a mando de Albert Wesker, e passa a ser perseguida pela empresa criadora de armas biológicas. O complexo da Umbrella tem tecnologia capaz de simular grandes metrópoles do mundo e o grande parte do filme se passa em simulações das cidades de Nova York, Moscou e Tóquio, todos monitorados e controlados pela inteligência artificial Rainha Vermelha. A Umbrella ainda mantém uma fábrica de clones para servirem de cobaias em seus testes com armas biológicas, e daí o surgimento de clones de antigos aliados de Alice: One, Carlos e Rain, personagens mortos em filmes anteriores.

A trama ainda se abarrota um pouco mais de personagens com Leon, Luther e Barry  como aliados de Alice contra a Umbrella, mas é na criança Becky que reside um grande acerto da produção: o uso da criança como instrumento para a humanização da protagonista. Nos filmes anteriores Alice destruía tudo a sua frente com um piscar de olhos, dava grandes saltos, grandes golpes, muitos tiros, mas era necessário algo para transformá-la em alguém mais que uma arma de combate. Tradicionalmente os feitos de Alice soavam como caricatos, ela era uma heroína invencível, e o fato de resolver todos os problemas durante os filmes (sem ou com pouquíssima ajuda dos coadjuvantes) transformavam-na num ser supremo, porém inverossímil, e a ausência de sentimentos só piorava as coisas. E é na relação materna que Alice tem com a garotinha Becky que o filme ganha pontos chegando a ser cativante a luta da protagonista para proteger a criança. Alice nunca esteve tão humana quanto neste filme: ela chora, é irônica, sangra, apanha, abraça uma criancinha...claro, ela não deixa de fazer as estripulias impossíveis  de costume, mas com a introdução de “sentimentos” a personagem se aproximou da verossimilhança e é possível temer pelo seu destino. Embora os personagens coadjuvantes ainda continuem sendo usados indiscriminadamente como escadas para a ascensão de Alice, desta vez a importância da protagonista não parece forçada justamente pela idéia de humanizá-la. 

Por outro lado, Jill Valentine(uma das personagens mais queridas dos games Resident Evil), tem todo o seu processo de humanização abafado( obviamente para deixar espaço para a relação entre Alice e Becky), o seu potencial como antagonista é prejudicado pelo excesso de personagens coadjuvantes, e a sua participação por pouco não se resume a “entrar muda e sair calada”. Jill é uma gladiadora na falta de um termo melhor e protagoniza a melhor sequência do filme num combate brutal contra Alice. A relação com  Alice é esquecida no filme e Jill não esboça nenhuma relutância em atacar a antiga aliada, a não ser em determinado momento do filme, em uma mudança de fisionomia por milésimos de segundo, mas à essa altura já não era o suficiente para humanizar a personagem. O roteiro ainda escorrega (para variar) e faz Alice desferir ataques mortais em Jill, sendo que Alice parece ter ciência de que a amiga está sob controle da Umbrella.
 
A introdução de clones de personagens mortos dos filmes anteriores no longa também foi algo totalmente desnecessário e o filme poderia muito bem seguir sem eles. A volta de clones de Rain se deve ao fato de um desejo do diretor Paul W. S. Anderson de trazer a atriz Michelle Rodrigues de volta à franquia. Michelle Rodrigues tem lá o seu carisma mas mesmo assim a sua volta encarnando duas clones (uma ‘boa’ e outra ‘má’)também não faria muita diferença para a trama, pois novos personagens poderiam ser introduzidos no lugar dos clones tranquilamente.


Se por um lado há uma oscilação no roteiro – que tradicionalmente tem muitas falhas e incoerências - a limitação é compensada pelas cenas de ação que são a melhor atração do filme. Paul W. S. Anderson é conhecido por saber fazer como ninguém cenas de ação, todas são um show à parte e garantem a diversão. A combinação de cenas de suspense, horror, ação e extrema violência remetem ao clima dos games, algo que já não acontecia desde Resident Evil: O Hóspede maldito. Aproveitando o clima dos games, o filme também emula o esquema dos chefes de fases em cada cenário simulado pela Rainha Vermelha. Ainda presentes, as cenas em slow motion foram severamente reduzidas em relação ao filme anterior Resident Evil: Recomeço, o que evitou que o recurso se tornasse enfadonho. O 3D se firma como um dos melhores da atualidade. Mais uma vez temos grandes machados, tiros, partículas, chuva, neve e sangue vindos em nossa direção como se fossem verdadeiros. Embora ainda perca boas oportunidades de explorar todo o potencial do enredo, as cenas de ação(especialmente feitas para explorar o excelente 3D), as coreografias de luta, as referências ao clima dos games e o acerto na transformação de Alice em uma heroína imparável, porém falível e provida de sentimentos que transformam Resident Evil: Retribuição no melhor filme de toda a série e diversão garantida aos amantes de um bom filme de ação.


                     Resident Evil Retribuição (Resident Evil: Retribution)                   
Alemanha / Canadá, 2012 - 95 min
             Ação / Horror
    Direção e Roteiro    
Paul W.S. Anderson
   
Elenco:
Milla Jovovich, Sienna Guillory, Shawn Roberts, Michelle Rodriguez, Li Bingbing,

Nota: Três frames (3,0)



Nenhum comentário:

Postar um comentário