Por Wilma Emilia.
Raros são os filmes que conseguem
sobreviver à um verdadeiro massacre da crítica e ainda assim ser sucesso de
bilheteria. A franquia de filmes Resident Evil é um desses raros exemplos. Se
por um lado a franquia é odiada pela maioria dos fãs do game ao qual é baseada
pela falta de fidelidade, por outro também conquistou a sua cota de fãs
apaixonados e um público constante e crescente. Com orçamentos medianos, os
longas conseguem triplicar os seus custos nas bilheterias ganhando uma sequência
após outra, tornando-se a adaptação de game mais lucrativa de que se tem
notícia. Na contramão do sucesso financeiro, os filmes são tradicionalmente um
festival de altos e baixos com roteiros medíocres, direções incompetentes,
personagens coadjuvantes inúteis, atuações rasas entre outras coisas. Além de
pecar como adaptação, os filmes também vinham pecando como obra
cinematográfica e os seus dias no cinema
pareciam contados.
Os filmes anteriores continham
idéias interessantes, porém, era na hora de executar essas idéias que o
resultado final decepcionava. Apesar do
resultado quase sempre insatisfatório, os desfechos dos filmes abriam as portas
para uma história completamente diferente a cada sequência dando boas
possibilidades de reparar os erros dos filmes anteriores, o que levava os mais
otimistas a acreditarem que um dia a história de Alice e Cia entraria nos eixos
– ou não. Todos queriam (e ainda querem) saber o desfecho da saga de Alice,
porque o Diretor Paul W. S. Anderson aprendeu a atiçar a curiosidade do espectador
encerrando cada filme com um gancho espetacular para a sequência (embora o filme
em questão não fosse tão bom assim), deixando todos ansiosos para o próximo
capítulo da série. Residente Evil Retribuição,mantém a tradição de todos os filmes anteriores, contando mais uma história que se passa em ritmo frenético, porém, desta vez, ganha pontos por abrir espaço para
tratar a sua protagonista com dignidade.
O longa se inicia exatamente de
onde Resident Evil: Recomeço terminou,
com um exército da Umbrella prestes a atacar o navio Arcadia onde Alice e seus
companheiros estavam. Durante o
ataque Alice é ferida e aprisionada em um complexo submerso da Umbrella.
Liderando as tropas da Umbrella está a Chefe de Segurança Jill Valentine,
antiga aliada de Alice e agora controlada pela Umbrella através de um dispositivo
em forma de escaravelho fixo em seu peito. Alice consegue fugir com a ajuda de
Ada Wong, uma agente infiltrada na Umbrella a mando de Albert Wesker, e passa a
ser perseguida pela empresa criadora de armas biológicas. O complexo da Umbrella
tem tecnologia capaz de simular grandes metrópoles do mundo e o grande parte do filme se passa
em simulações das cidades de Nova York, Moscou e Tóquio, todos monitorados e
controlados pela inteligência artificial Rainha Vermelha. A Umbrella ainda mantém
uma fábrica de clones para servirem de cobaias em seus testes com armas
biológicas, e daí o surgimento de clones de antigos aliados de Alice: One,
Carlos e Rain, personagens mortos em filmes anteriores.
A trama ainda se abarrota um
pouco mais de personagens com Leon, Luther e Barry como aliados de Alice contra a Umbrella, mas é
na criança Becky que reside um grande acerto da produção: o uso da criança como
instrumento para a humanização da protagonista. Nos filmes anteriores Alice
destruía tudo a sua frente com um piscar de olhos, dava grandes saltos, grandes
golpes, muitos tiros, mas era necessário algo para transformá-la em alguém mais
que uma arma de combate. Tradicionalmente os feitos de Alice soavam como caricatos,
ela era uma heroína invencível, e o fato de resolver todos os problemas durante
os filmes (sem ou com pouquíssima ajuda dos coadjuvantes) transformavam-na num
ser supremo, porém inverossímil, e a ausência de sentimentos só piorava as
coisas. E é na relação materna que Alice tem com a garotinha Becky que o filme
ganha pontos chegando a ser cativante a luta da protagonista para proteger a
criança. Alice nunca esteve tão humana quanto neste filme: ela chora, é
irônica, sangra, apanha, abraça uma criancinha...claro, ela não deixa de fazer
as estripulias impossíveis de costume,
mas com a introdução de “sentimentos” a personagem se aproximou da verossimilhança
e é possível temer pelo seu destino. Embora os personagens coadjuvantes ainda continuem
sendo usados indiscriminadamente como escadas para a ascensão de Alice, desta vez a importância da
protagonista não parece forçada justamente pela idéia de humanizá-la.
Por outro lado, Jill
Valentine(uma das personagens mais queridas dos games Resident Evil), tem todo
o seu processo de humanização abafado( obviamente para deixar espaço para a
relação entre Alice e Becky), o seu potencial como antagonista é prejudicado
pelo excesso de personagens coadjuvantes, e a sua participação por pouco não se
resume a “entrar muda e sair calada”. Jill é uma gladiadora na falta de um
termo melhor e protagoniza a melhor sequência do filme num combate brutal
contra Alice. A relação com Alice é
esquecida no filme e Jill não esboça nenhuma relutância em atacar a antiga
aliada, a não ser em determinado momento do filme, em uma mudança de fisionomia
por milésimos de segundo, mas à essa altura já não era o suficiente para
humanizar a personagem. O roteiro ainda escorrega (para variar) e faz Alice desferir ataques mortais em Jill, sendo que Alice parece ter ciência de que a
amiga está sob controle da Umbrella.
A introdução de clones de
personagens mortos dos filmes anteriores no longa também foi algo totalmente
desnecessário e o filme poderia muito bem seguir sem eles. A volta de clones de
Rain se deve ao fato de um desejo do diretor Paul W. S. Anderson de trazer a
atriz Michelle Rodrigues de volta à franquia. Michelle Rodrigues tem lá o seu
carisma mas mesmo assim a sua volta encarnando duas clones (uma ‘boa’ e outra
‘má’)também não faria muita diferença para a trama, pois novos personagens
poderiam ser introduzidos no lugar dos clones tranquilamente.
Resident Evil Retribuição (Resident Evil: Retribution)
Alemanha / Canadá, 2012 - 95 min
Ação / Horror
Ação / Horror
Direção e Roteiro
Paul W.S. Anderson
Paul W.S. Anderson
Elenco:
Milla Jovovich, Sienna Guillory, Shawn Roberts, Michelle Rodriguez, Li Bingbing,
Milla Jovovich, Sienna Guillory, Shawn Roberts, Michelle Rodriguez, Li Bingbing,
Nota: Três frames (3,0)
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